No dia 3 de março de 2021, a executiva de
marketing Sarah Everard, de 33 anos, estava voltando da casa de uma amiga em Clapham,
bairro do sul de Londres. Ela falou por telefone com o namorado por
cerca de 15 minutos durante o trajeto, e eles combinaram de se encontrar no dia seguinte. Mas aquela foi a última vez que os dois se
falaram. Sarah foi abordada por um policial às 9:34 daquela noite. Ele a acusou de estar violando as regras de
lockdown impostas por causa da pandemia de covid-19. A jovem foi algemada e presa. O que ela não sabia era que tudo aquilo tinha
sido planejado pelo policial. E nem que aqueles eram seus últimos momentos
em vida. Eu sou Nathalia Passarinho, da BBC News Brasil
em Londres, e neste vídeo eu vou falar sobre esse crime brutal. O corpo de Sarah foi encontrado queimado dias
depois em um bosque próximo de Ashford, cidade no condado de Kent, que fica 100 km ao leste
de Londres. O crime, que chocou os britânicos, desencadeou um amplo
debate sobre violência contra as mulheres no país e colocou a confiança na polícia
em xeque. O assassino em questão é o policial Wayne
Couzens. Ele foi condenado à prisão perpétua pelo
assassinato de Sarah Everard no dia 30 de setembro de 2021. Couzens tem 48 anos e atuava na profissão
desde 2002. Ele servia à Polícia Metropolitana de Londres,
também conhecida como Scotland Yard. Antes do assassinato, o policial passou pelo
menos um mês viajando de onde morava em Deal, no condado de Kent, até Londres. Ele também alugou o carro que seria usado
para o sequestro e comprou um rolo de fita adesiva para carpete dias antes do ataque. O objetivo era planejar a melhor maneira de
cometer o crime. Às sete da manhã do dia 3 de março, ele
terminou um turno de 12 horas trabalhando na embaixada dos Estados Unidos em Londres. Couzens integrava a unidade policial de proteção
a parlamentares e diplomatas. Após o expediente, ele viajou até Kent para
pegar o carro que tinha alugado no dia 28 de fevereiro. Couzens então voltou para Londres e começou
a rodar pela cidade em busca de uma jovem solitária para sequestrar e estuprar, de
acordo com a promotoria do caso. Sua ideia era capturar a vítima por meio
de uma prisão falsa, que seria feita sob a acusação de descumprimento das regras
da covid-19. Para isso, o policial usaria o conhecimento
que adquiriu trabalhando nas patrulhas da covid em janeiro de 2021, além do seu distintivo. Couzens chegou em Clapham por volta das 9
e 23 da noite. Sarah Everard tinha saído havia poucos minutos
da casa de uma amiga. Ela caminhava pela estrada Circular Sul de
Londres em direção a Brixton Hill, onde morava. Às 9 e 34 da noite, Couzens estacionou seu
carro e abordou Everard. Ele mostrou seu distintivo e algemou a vítima
alegando uma suposta violação das regras de contenção do coronavírus. O sequestro durou menos de 5 minutos e foi
capturado duas vezes por câmeras. Depois da abordagem, os dois entraram no carro
e seguiram em direção a Kent, 100 quilômetros a leste de Londres. Couzens então trocou o carro alugado por
seu carro pessoal às 11 e 43, em Dover, e levou Sarah para uma área rural próxima
dali. Foi lá onde ele estuprou e depois assassinou
a vítima. Acredita-se que o crime tenha ocorrido entre
11 e 53 e meia-noite e 57 do dia 4 de março. A investigação aponta que Sarah foi morta
estrangulada pelo cinto do policial. No dia seguinte, o namorado de Sarah entrou
em contato com a polícia após ela não aparecer para o encontro que tinham combinado pouco
antes de ela ser sequestrada. Àquela altura, sua namorada já estava morta. À medida que a busca da polícia por Sarah
aumentava, Couzens tomou algumas medidas. Primeiro, foi até Dover com seu carro pessoal
para retornar o carro que havia alugado para fazer o sequestro. No caminho para devolver o carro, imagens
mostram ele comprando café da manhã em uma lanchonete. Depois de devolver o carro alugado, ele dirige
com seu carro pessoal até Sandwich, em Kent, para jogar o celular de Sarah em um riacho. Cerca das 11 da manhã do dia 4, ele compra
aproximadamente 5 litros de gasolina e vai até Hoads Wood, onde possuía um terreno. Ao meio dia e 40, um incêndio é observado
no local. Foi lá que o policial queimou o corpo de
Sarah dentro de uma geladeira. No dia seguinte, ele chegou a marcar uma consulta
com o veterinário do seu cachorro. Couzens comprou dois sacos de entulho verde. Ele usou esses sacos para despejar os restos mortais de Sarah
em um lago próximo ao terreno. Nos dias seguintes, Couzens voltou para uma
vida relativamente normal. O policial inclusive levou sua família para
uma viagem até o terreno onde queimou o corpo de Sarah, no dia 7 de março. No dia 9, a polícia finalmente chegou até
Wayne Couzens. Em um primeiro momento, ele foi preso sob
a suspeita de ter sequestrado Sarah Everard. O policial afirmou que estava passando por
dificuldades financeiras e inventou uma história mirabolante. Ele disse que foi ameaçado por uma gangue
de criminosos do Leste Europeu depois de não ter pagado pelos serviços de uma prostituta
semanas antes. Couzens disse que foi obrigado a entregar
outra garota para os criminosos, e que esse teria sido o motivo do sequestro de Sarah. Na sua versão, ele teria entregado Sarah,
viva e ilesa, a três homens em uma van em um acostamento de rodovia em Kent. Mas, no dia seguinte, o corpo de Sarah foi
descoberto em um lago a apenas 130 metros do terreno de Couzens, em Hoads Wood. Couzens foi então acusado pelo sequestro
e assassinato da jovem. Em julho, ele se declarou culpado pelos crimes. E foi sentenciado à prisão perpétua no
dia 30 de setembro de 2021. A morte de Sarah desencadeou uma série de
protestos no Reino Unido. No dia 13 de março, logo depois de o corpo
da jovem ser encontrado e de Wayne Couzens ser preso, uma série de vigílias foram realizada. A mais controversa foi a vigília de Clapham,
que aconteceu próximo ao local onde Sarah desapareceu. A polícia realizou quatro prisões sob alegações
de violação às regras da covid-19. A morte de Sarah também abriu um debate mais
amplo sobre violência contra as mulheres na Inglaterra. Isso levou o primeiro-ministro Boris Johnson
a prometer ações como melhoria da iluminação pública. A polícia inglesa também foi levada a escrutínio
público após o assassinato de Sarah. Isso porque Couzens tem uma série de acusações
de delitos de cunho sexual nos anos em que atuou como policial. A primeira delas teria acontecido em 2002,
ano em que ele entrou para a polícia de Kent. Ele foi acusado de exposição sexual indecente
em 2015 e no início deste ano. Em fevereiro de 2021, dias antes de assassinar
Sarah Everald, Couzens foi acusado de outros dois incidentes de exposição indecente. Eles teriam ocorrido em fevereiro, em um fast
food em Londres. O órgão fiscalizador também anunciou que
está apurando as falhas da Polícia Metropolitana para investigar esses incidentes. Além dessas acusações, Couzens era conhecido entre os companheiros de polícia por gostar de pornografia violenta Ele chegou ainda a ser apelidado de “O Estuprador”,
por causa do desconforto que causava nas mulheres ao seu redor. Fato é que, no último dia 27 de setembro,
ele compareceu ao tribunal para uma audiência de condenação que durou dois dias. Lá, ele encontrou pela primeira vez com a
mãe, o pai e a irmã de Sarah. Eles descreveram ao tribunal o tormento de
ter perdido Sarah de maneira tão horrenda. Em determinado momento, o pai, Jeremy, exigiu
que Couzens olhasse para ele. Jeremy disse ao assassino que nunca poderia
perdoá-lo por levar sua filha embora. Na ocasião, a mãe de Sarah disse estar atormentada
ao pensar no que sua filha teve que suportar. Depois da resolução do crime, o primeiro-ministro
Boris Johnson pediu que as pessoas confiem na polícia. Ele também disse que as autoridades devem
agir com rigor em casos de policiais que tenham condutas impróprias. Em meio ao clamor por mais segurança para
as mulheres, a Polícia Metropolitana de Londres disse que vai tratar acusações de exposição
indecente mais seriamente, e que colocaria centenas de novos policiais para patrulhar
áreas movimentadas de Londres. A Scotland Yard também divulgou recomendações
para pessoas que sejam abordadas por um policial que esteja sozinho e sem uniforme. A força também sugeriu pedir ajuda às pessoas
que estão passando, acenar para um ônibus ou ligar para a polícia, isso em casos em
que essa pessoa se sentir, abre aspas, “sob perigo real e iminente”. As recomendações foram criticadas por parlamentares
e por organizações, para quem isso mostra que a polícia ainda não está levando o
assunto a sério. Após a condenação de Couzenz, a chefe da
Polícia Metropolitana, Cressida Dick, afirmou que “um vínculo precioso de confiança foi
danificado” e que ela garantiria que todas as lições fossem aprendidas. Eu fico por aqui. Obrigado pela audiência e até a próxima.
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